quinta-feira, 25 de julho de 2013

ESCOLA PÚBLICA

ESCOLA PÚBLICA

Pra que serve um deputado?
pode me dizer?
com esse texto decorado
nada vou aprender,
não reclame se eu perguntar
se é pra copiar,
é que preciso aprender
preciso de alguém pra explicar!

Sou vagabundo por não fazer o dever de casa?
é que não lhe falei da minha família...
meu velho chega em casa bêbado,
bate, xinga, grita e humilha,
mas tu não sabe o que é isso,
tá muito deprimido e tem muito compromisso,
é que tu não anda de ônibus, come bem
e não mora em cortiço!

Eu na faculdade sabe que eu não vou chegar,
pega mais leve porque tenho que trabalhar,
não sou bagunceiro porque eu quis assim,
meu universo é outro não exija tanto de mim,
se não gosta dos pobres vai pro particular,
se lá não te aceitam vai se qualificar,
vem aqui vamos conversar,
a vida real é muito dura vou lhe explicar!

Thiago Devos

segunda-feira, 22 de julho de 2013

"VÍTIMAS DOS DIPLOMADOS"



Eu não entendo a sua greve
se é daqui ou nacional,
o conhecimento não me negue
não preciso de mais "um cara legal",
se eu tô aqui pra aprender...
por que chego ao ensino médio sem nada saber?

A culpa é minha?
se a minha cultura é culpa do governo que tu sempre defendeu?
agora estão de rinha?
igual a culpa é tua se o meu povo nada aprendeu,
mas deixa pra lá,
não tenho um diploma e nem dinheiro, por isso não posso reclamar.

Ria, ria da minha ignorância,
eu tenho pena, tenho pena
pena da sua arrogância,
usa a nossa condição como forma de renda
mas vou ficar bem quieto...
nesse sistema sobrevivem só os espertos!


Thiago Devos

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Amor periférico, tipo filme nacional.


 Tiago e Daiane saíram da escola técnica. O clima estava pesado entre os dois. O sol por entre as nuvens cinza de um dia de julho brilhava nos olhos negros de Daiane, se olharam duas vezes, bem nos olhos. Ele reparou nas suas leves sardas, no cabelo preto, porte pequeno. Instintivamente lhe vinha à mente o medo por ela ser mais nova, sem maturidade, apenas seriedade no olhar, mas isso não lhe passava confiança. Ele vinte e dois, e ela dezesseis. Alguma coisa estava errada, ele não sabia o quê.  - Aí vem o ônibus! disse ela. - O quê tu vais fazer lá no Bosque? - Tiago, nem quero que tu venha comigo!  - Então vai! disse ele com raiva.   Ele baixa a cabeça, deixa ela entrar no ônibus, atravessa a rua, caminha duas quadras e vai até a floricultura. Ele lembra da flor que seu avô tanto queria plantar, pergunta o preço, puxa a carteira e ouve a voz suave : "Tiago!".  Reconhece a voz de Daiane.  - Desci no outro ponto, não quis deixar tu sozinho. Disse ela com um olhar envergonhado, de culpa no cartório, e medo de magoar alguém tão paciente como ele.  - Tá bom, respondeu ele com uma pequena e sutil indiferença.  Ele paga, e os dois saem. Ele olha pra ela, bem nos olhos, mas retiram-se os olhares.  -Vamos juntos, vamos lá ver o preço do curso juntos.  - Ele responde: Não dá... lembrei que tenho de voltar e ir na biblioteca. Disse ele friamente.  - São quatro e dez da tarde, as inscrições de hoje fecham às cinco e meia, se vamos à pé, não vai dar tempo. Disse ela com um olhar de cãozinho carente.  - Tá bom, vai, eu não posso, mudei os meus planos.  Ele pára na frente da escola e fica olhando ela ir embora... com aperto no peito, louco para ir atrás. Ela olhava pra trás, com carinha de triste. Ele achava que estava dando um troco, pura imaturidade de gente apaixonada. Mas o que lhe intrigava era um certo medo, uma culpa que o jeito dela transparecia. Não era mais apenas o jeito envergonhado.  Leu algumas revistas para não mentir depois (ele odiava mentir), e voltou pra casa. No outro dia ele vai trabalhar, não liga pra ela. Como de costume, ele saia às seis e voltava às oito da manhã. Empilhando coisas em seu serviço braçal, pensava no porte pequeno dela. Sua mistura racial linda, seu jeito envergonhado... mas alguma coisa lhe dizia que não voltariam a se ver.  Almoça, conversa com o avô sobre as flores. Sai apressado. Quando chega olha para o Douglas, o garoto da idade dela com jeito delicado, pequeno, que ela tanto fala e riem juntos. Seu olhar de norte americano brutamontes o olha com raiva, como um soldado americano olhando para um vietnamita franzino, de franjas. Os dois tinham esse esteriótipo. Tiago, o americano, Douglas o vietnamita. Seria como nos filmes dos anos oitenta onde o brutamontes queria a mocinha a todo o custo e não perder para o rapazinho legal e nerd? Ou seria o contrário?  Douglas esbugalha os olhos, e baixa a cabeça, Tiago tinha um porte físico muito grande, era forte por fora, mas muito fraco por dentro, empunha o respeito mesmo assim.  Ele sente falta dela, das brincadeiras bobas, da maneira boba como como conquistou ela: "Olha, parece a menina da novela, a Morena!" Ela olhou com um olhar de censura e nem respondeu. Passou o tempo, trocaram olhares e um dia na cantina ele olha pra ela, com o jeito debochado e diz: "Oi Morena, aquele 'cara sou eu'?" Ela ri da piada e aí tudo começou.  Dia normal e cinza, como no dia anterior, a hora em que ela foi em direção ao Centro, estava ventando igual.  Em casa assistindo o noticiário, ele tem a notícia: "FOI ENCONTRADO HOJE À TARDE O CORPO DA JOVEM DAIANE LEMOS MELO QUE ESTAVA DESAPARECIDA, ELA FOI ENCONTRADA COM UM TIRO E MARCAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL."  Ele gela... o coração acelera, Tiago entra em pânico. Liga para a família que não atende, não dorme e não consegue sair de casa. Poucas horas depois batem na porta, eram agentes da Polícia Civil, o intimando a acompanhá-los até a delegacia. Ele vai. Chegando lá, reconhece o delegado, costumava bater papo com ele, conhecia da rua e nem sabia que ele era delegado. O delegado o interroga, tudo bate conforme as últimas pessoas que a viram próximo a escola, incluindo o senhor da floricultura. O delegado pergunta sobre o que ela teria dito e mostra uma foto. Na foto estava ela, Tiago e Douglas. "Estamos trabalhando nos fatores D e T." Ele olha as fotos marcadas com a letra T abaixo dele, e D abaixo de Douglas. "Não conheço esse tipo de investigação" diz Tiago. O delegado responde: "Só tivemos informações de duas pessoas que entraram em contato com ela antes da morte: Tu e o Douglas. O Douglas foi por mensagens."  Mensagens... Tiago e Daiane nunca trocavam mensagens, não era o costume dela.  "A tua participação está descartada." disse o delegado. Quando Tiago sai da sala, olha para o próximo a dar depoimento, o Douglas e diz: "O que tu fez filho da puta?! Foi tu! Foi tu!" Os policiais o seguram e Douglas diz claramente: "EU SÓ TE AJUDEI!"  "Vai pra casa Tiago!" diz o delegado. "Amanhã tem o velório, é triste, mas é a vida..."  Velório. Choro. Dor. Sepultamento.  Passou, mais um dia, ele foi na outra tarde amarelada, sombria, até o túmulo. Ali lembrava chorando e falando alto com muita culpa: "PORQUE NÃO FUI JUNTO, ELA NÃO TERIA MORRIDO!"  Não lhe saia da cabeça o olhar dela indo embora. Não lhe saia da cabeça o solo de guitarra que ele tanto gostava, da música "Solidão que nada" do Cazuza, ela dizia que era brega, mas ele escolheu como a sua trilha sonora de amor. Coisa de alguém mais velho, gamado, louco por aquele amontoado de células em forma perfeita, como o Big Bang onde a Terra e  o universo fizeram-se lindos e perfeitos.  Sete e quinze a notícia no jornal: "FOI PRESO HOJE O RÉU CONFESSO DA MORTE DE DAIANE LEMOS MELO. SEGUNDO A POLÍCIA, O HOMEM, UM PM, FORNECIA DROGAS À JOVEM E AO SEU AMIGO EM TROCA DE SEXO. A JOVEM QUE ERA VICIADA EM CRACK NÃO QUERIA MAIS SE RELACIONAR COM O HOMEM QUE NA TARDE DO DIA SETE A AGUARDOU PRÓXIMO A ESCOLA, Á LEVOU PARA A SUA CASA NO BOSQUE ONDE A MATOU."  Tiago foi o último a saber o que todos já sabiam. O fato dela ter descido do ônibus era uma espécie de pedido de socorro emitido por ela. O amor dela por ele, estava fazendo ela abandonar o vício e o seu aliciador, à qual lhe viciava desde os catorze anos.  O orgulho venceu Tiago, foi o seu amor, grande amor, foi uma vida, alguém que havia resistido ao vício só para ficar ao seu lado. Como sempre o ego, a falta de diálogo e compreensão venceram, mas se perderam uma vida e um amor. Thiago Devos

domingo, 7 de julho de 2013

A realidade da classe dominante

"A realidade da classe dominante"

A sirene toca e no condomínio se pensa:
um ladrão sendo preso...
é apenas alguém sendo revistado 
na favela que fica ao lado.

Condomínio de ricos,
cabeludos, barbudos e maconha
ali a polícia não entra, e olhando eu fico,
só nos lugares de madeira eles implicam, mas que vergonha!

"Vamos às ruas!" bradam.
os do condomínio querem mudar a cidade,
poemas, Bob Dylan, eles não se calam,
mas não olham, não se associam com a realidade.

Onde está o preto?
indo pra casa, preso no ônibus, trânsito engarrafado,
fica quieto para não fechar o cerco,
se se envolver, sabe que por ser pobre será espancado ou assassinado.

Thiago Devos

domingo, 19 de maio de 2013

Nuvem de desespero


O que queres comigo?
Ó nuvem de escuridão,
Chegas com força, acabando com minh'alma
Sovando o meu coração.

O que fazes além de desestimular?
Qual o teu objetivo ou serventia?
Tenho-te agarrada à minha pessoa
Chegas cedo, quando termina a luz do dia.

Saia, se retire,
tire-me da presença de teus demônios,
há quem te ama, mas eu te odeio pobre ilusão
me corróis por dentro, maldita e infame depressão!

Thiago Devos

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Dualidade Cotidiana


Não adianta fugir da Natureza,
em tudo existe a dualidade,
a pureza e a impureza,
a pobreza e a riqueza
a mentira e a verdade.

Não dá pra tapar o Sol com a peneira
tentar disfarçar e dizer que não há,
fechar os olhos de tal maneira,
tirar a coisa do lugar que está,
abra a sua cabeça e comece a pensar.

A novela te aliena,
desvia o teu olhar,
de ti eu sinto pena
por te impedirem de pensar,
falam uma série de mentira e tu começa a acreditar!

É tudo cinza mas te disseram que não é,
te ensinaram que é Coca ou Leite,
preto ou branco,
Xuxa ou Pelé,
o Ying e Yang é verdadeiro e não questão de fé!

- Thiago Devos

Democracia ocidental em uma aldeia do Vietnã


Eles estão chegando...
posso sentir o ronco dos helicópteros
e os vejo como uma nuvem de gafanhotos,
está chegando a hora, me dá frio na barriga.

Eles estão vindo...
já posso ouvir as mães gritando de medo na aldeia,
vejo as vacas ouriçadas, agitadas com o barulho,
me disseram que eles dessem dos helicópteros.

Quando descem barbarizam, aterrorizam, abusam,
será que se eu pedir ao deus deles ajuda ele ouvirá?
sei que sou apenas uma formiga vietnamita,
mas ele ouvirá?

Está próximo...
minha carne estremesse,
minhas pernas não me desobedecem,
e eles chegam.

Gritam, empurram, batem e humilham,
quem de nós seria o inimigo?
os homens loiros e altos levam mulheres consigo,
eu fiquei atônito.

Me apontam o fuzil,
seus olhos azuis fixam no meu,
falam estranho, gritam e ouço um 'clack',
ele mira o cano na minha cabeça e...

- Thiago Devos